6.10.09

:: DISCURSO ANTI-TECNICISTA ::

Tenho medo das novas tecnologias e as novas formas de relacionamento pessoal. De como serão as coisas daqui pra frente. Ao passo que anda... Todo esse avanço tecnológico reformulou o modo como as pessoas se relacionam atualmente. As coisas parecem solúveis, fluídas, escorregadias. Talvez o discurso Baumaniano estaja certo, as novas relações pessoais, nesse mundo pós-moderno, dissiparam-se. Transformando-se em sentimentos leves e líquidos. De momento, de instante. E até o discurso McLuhaniano de que tudo se resuma a uma coisa só com o advento das tecnologias complementa essa sutil revolta. Nessa aldeia global, esses novos aparatos técnicos tornaram-se extensões do corpo humano, fazendo do homem um ser cada vez mais preguiçoso e emburrecido. Torno a repitir: tenho medo disso tudo. Vejamos o caso. Há algum tempo cancelei minha conta no site de relacionamento Orkut - que fez parte da minha rotina diária por quatro anos consecutivos. E o fato é que, após esse suicídio, é como se eu tivesse sido abduzido do mundo e não estivesse mais fazendo parte da realidade. É como se eu estivesse cometendo uma heresia, um crime social quase perfeito. Comecei a ouvir coisas do tipo: "Credo, você não tem orkut?". E o que mais me incomoda é saber que estar fora de lá é, praticamente, tornar-se um ser insignificante. Foi meu aniversário e a grande maioria do meu rol de amigos esqueceu disso. Tirando apenas aqueles que já faziam parte da minha vida antes da febre do Orkut. Sendo mais claro, apenas uma amiga dos tempos de escola, a família e alguns conhecidos do antigo trabalho da minha mãe que me conheceram menino. Fora isso, todos os outros que são verdadeiramente íntimos e importantes para mim e vivem no mundo cibernético orkutiano, simplesmente, esqueceram. Tudo por quê? Esse Pai - Orkut - tem um sistema de lembrete de aniversários. Quem está lá, pode ficar tranquilo que está sob a graça do Orkut e não esquecerá do aniversário de ninguém, tão pouco será esquecido no seu. Agora, quem está de fora, já não sei se terá o mesmo sucesso. Cai no ostracismo.
Certas horas fico com pena desses amigos, envenenados pelo mal orkutiano, estão com parte de suas memórias defasada, por falta de exercício. Deixaram a cargo do Orkut – o novo Pai Maior – o trabalho de lembrar a existência de um mundo fora da esfera cibernética. Computadores como extensão do corpo humano [profecia de McLuhan]. Mas deles, não tenho raiva, nem mágoa. Pode soar clichê, ou até anos 90 demais, mas é que ainda acho tão mais romântico aquela coisa de anotar na agenda, policiar-se para não cometer a falta de esquecer o aniversário de um amigo, poder pegar o telefone e ligar desejando tudo de bom. É tão mais íntimo, significativo, do que aquele scrap frio, azul, superficial.
O Orkut fez uma Lobotomia geral. Anestesiou a massa e a levou a um estado de baixa reatividade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara, muito bom o texto, sua escrita é boa, a única coisa que estragou seu texto, na minha opinião, obviamente, é a transparência da força motriz da criação do seu texto. Neste caso fica a interpretação de recalque.
Bom, não sei quais são os objetivos dos seus textos, mas saiba que, ao menos uma pessoa, pensou que seu texto é um lero lero recalcado gerado por algo que te afetou, que foi a ocorrência de várias pessoas esquecendo seu aniversário.
Sem dúvida é um assunto discutível, mas não acho que a tecnologia deva ser culpada, não tem outra solução?
Enfim, esse é um comentário bosta de um pedaço de bosta, por favor me exclua pois se você leu já foi cumprido o papel. Especialmente se considerar isto uma crítica construtiva. Caso contrário, paciência...