28.10.09

:: INFÂNCIA ::

Por ora, a vida parece um conto de fadas às avessas. A gente passa toda a infância achando que o mundo dos adultos é a perfeição. A terra de Oz onde tudo é possível. São pedidos diários para acordarmos grandes e independentes com a pseudo-possiblidade de realizar todos os desejos. Ter uma loja de brinquedos e a infinita liberdade de se divertir. Ou um supermercado inteiro de guloseimas. E esse é o grande encanto da infância que nós trocamos a qualquer custo por uma vida de adulto, só por acreditar que gente grande tudo pode. O tempo vai passando e junto começa um processo de ruptura com a fantasia. Começamos a perceber que para toda essa maravilha é preciso se curvar ao mais cruel dos reis. Ao império do dinheiro! E, pronto... Começam os problemas.

Mas a imaginação de uma criança flui e não procrastina. Sempre em perfeita harmonia com o mundo do “tudo pode”, ela começa a buscar quais as maneiras de realizar os seus desejos. É um processo, praticamente, de pesquisa empírica sobre a realidade da fantasia – apesar do paradoxo. Lança olhares de rapina na esperança, sempre, de encontrar os meios para a realização dos desejos, pois, mesmo criança inocente, já percebe que aqui – no mundo dos homens grandes – sem dinheiro não dá. É um discurso rotineiro que vai construindo a muralha no mundo sem limites de um infanto: “hoje não pode porque mamãe está sem DINHEIRO”, “ mês que vem você ganha, porque papai já vai ter DINHEIRO”. Dinheiro, dinheiro, dinheiro.

Trocador de ônibus passa a ser uma opção, afinal ele recebe muitas moedas de todos e ainda guarda as notas mais altas com ele. Enquanto em casa, encher o cofrinho é bem mais difícil. Os caixas de supermercado também não ficam atrás. São ótimas oportunidades. Os donos de bancos, poxa! Eles têm maquininhas que é só apertar que sai dinheiro! Que vida maravilhosa! Santa inocência de infância! Talvez até o político poderia entrar nesse rol, porque eles também ficam com o dinheiro de todo mundo, mas de uma maneira nada lícita. E, além do mais, é melhor não induzir crianças a seguirem por esse caminho.

No entanto, no processo natural das coisas, a inocência começa a se desfazer e dá lugar a uma crença de que a realidade não é tão simples assim. Os castelos desmoronam, o mundo da fantasia, que é tão mais tragável, começa a ficar seco, acre, azedo. A gente passa de esperto sonhador, de puro inocente, a um áspero adulto.

Descrente, por vezes, de toda aquela perfeição. Desestimulado de sonhar como criança. Desacreditado de tudo. Envolvido nessa realidade cruel do mundo. Mergulhado numa rotina estressante de dia-a-dia.

“Aproveite enquanto o sonho é grátis!”

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